Saturday, July 18, 2009

Exercício N.º2

Excerto do imaginário subjectivo e emotivo reescrito segundo o imaginário da acção.


Devia preparava-se para dormir. Mas a sua mente não o permitia.
No quarto escuro, sombras das luzes exteriores salpicavam o tecto. Sentou-se no cadeirão envelhecido e suspirou. Retirou tabaco no estojo e enrolou vagarosamente um cigarro. Procurou, no bolso do peito do casaco pelos fósforos. Acendeu o cigarro e baixou a cabeça.
Sentiu-se profundamente fatigado naquele momento. Sentiu-se como se já tivesse vivido toda a sua vida e que se aproximava dos seus últimos tempos.
Sorriu por fim e pensou: Não, não era cansaço.
Tratava-se de uma quantidade de acontecimentos, vivências e experiências que se iam acumulando mas não, não era cansaço.
Um tímido toque na porta fê-lo regressar dos seus pensamentos.
- Entre.
Era a velha matriarca, que avançava no quarto escuro o quanto as suas pesadas pernas permitiam. Segurava uma vela.
- Foi assim tão difícil? – perguntou, a sua voz mais roca do que se lembrava.
Ele suspirou novamente e, do fundo do seu cadeirão, gesticulou em direcção à cama, para ela se sentar. A velha senhora declinou e manteve a sua posição, no centro do quarto.
- Estou cansado. – disse, por fim, na tentativa de terminar a conversa rapidamente.
Os olhos da velha senhora brilharam, por instantes, antes de se aproximar do cadeirão.
- Cansado? Não. Parece-me que não.
Pouca coisa poderia esconder à velha senhora. Levantou-se e refugiou-se ao pé da enorme estante de livros.
- Desilusão, então. É esse o termo que prefere? É uma enorme desilusão que contamina os todos os meus pensamentos…
Calou-se. Inalou novamente o fumo negro do cigarro. Olhou lá para fora. A cidade dormia. Era uma boa altura para sair novamente.
Olhou para a velha senhora novamente. Esta permanecia imóvel. Tinha de tentar tranquilizá-la, mesmo que isso significasse partilhar os seus maiores receios.
Avançou para ela e tomou os seus frágeis ombros. Pediu, sem palavras, que fixasse o seu olhar no seu.
- Tudo me é tão estranho. – disse, por fim – É como se fosse um domingo às avessas. E estes acontecimentos conduzem a estes pensamentos… - suspendeu-se, como se procurasse as palavras – a esta espécie de pensar… Como posso fazê-la compreender?
Largou os ombros da velha senhora e caminhou até à porta do quarto. A sua mão agarrou no manípulo e deteve-se. Inalou novamente o cigarro e sorriu genuinamente, pela primeira vez naquela noite.
- É como se tratasse de um feriado no abismo. Não há outra forma de descrever aquilo que sinto… Ou aquilo que penso que sinto…
Abriu a porta e saiu do quarto.

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