Friday, April 10, 2009

Desafio

- “Tudo começou com uma cabeçada.” - disse-me, com uma segurança fantástica.

Olhei para aquele personagem e tentei lembrar-me de onde o conhecia.

Ah sim!

Amigo do amigo da prima da vizinha do meu amigo. Conhecera-o numa festa. Um daqueles que provoca uma valente dor de pescoço cada vez que falamos com ele. Uma autêntica torre, com uns olhos fantásticos e juba abundante, digna de um modelo. Bem-parecido, com sucesso entre as mulheres. Pedi para mo apresentarem. Achei a embalagem bastante interessante, decidi investigar o interior.

Apresentaram-mo. Não despertara qualquer reacção na personagem. Estava bem mais interessado na loira estonteante que se encontrava do outro lado do balcão. Ao que parecia era a sua conquista da noite.

O meu grupo falava das férias. Alguém referiu Santo André.

Prontamente comentou.

- “Ah sim, no Algarve. Costumo lá ir todos os anos.”

Agradeci a apresentação mas claramente a embalagem estava vazia.
Encontrei-o um mês depois, em frente ao cinema. Lembrou-se de mim. Sorri. Confesso que já não me lembrava bem dele. Perguntei-lhe como tinha corrido o resto da noite. Respondeu-me que tinha corrido muito bem. Acho que consegui vislumbrar um sorriso malandro no seu rosto, cá de baixo.

Perguntei-lhe o que fazia por ali.

Agora fora a vez de ele sorrir. Esperava por uma pessoa.

- “Naturalmente.”- respondi, a brincar – “alta, esbelta, 1,80m, com tudo no sítio.”

- “Naturalmente.” – respondeu. - “Sabes como tudo começou?”

Olhei para ele. Não percebi o que disse.

- “O que é que começou?”

- “Sabes como tudo começou? Nós? Adão e Eva?”

Ah. Mais uma teoria sobre a relação entre homens e mulheres.

- “Não, diz lá.”

- “Deus criou Adão. Deus viu que Adão se estava a divertir demasiado sozinho e fez com que chocasse com uma árvore. Adão ficou com uma valente dor de cabeça. Dessa dor de cabeça acabou por sair a Eva. Vês, tudo começou com uma cabeçada.” – concluiu com um sorriso orgulhoso.

Esperei alguns segundos, com a esperança de assimilar o sentido das suas palavras. Pareceu-me a ideia mais estúpida dos últimos tempos. E, provavelmente, não estava errada.

- “Isso significa que dás cabeçadas constantemente?” – perguntei, a rir, enquanto avançava na fila.

- “Estou constantemente apaixonado.”

Nesse momento, chegou a presa da noite. Olhei para ela. Não fugia muito à minha descrição anterior.

- “Então, e a cabeçada?” – perguntei finamente.

- “Ainda cá está. Deus apenas decidiu mudar a dor para outra zona. Mas não te esqueças, tudo começou com uma cabeçada.”

E foi-se embora.

Comprei o bilhete e entrei no cinema. Enquanto esperava pelo início do filme, a simplicidade das suas palavras fazia-me pensar.

Relacionar a complexa relação entre homens e mulheres a uma simples cabeçada. E nesse momento, a sua ideia não me pareceu tão absurda.

Sim, era uma boa forma de classificar o começo de tudo. Uma cabeçada e uma consequente valente dor de cabeça.

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Rascunho estupidamente escrito em meia-hora. Não consigo perceber o que me deu para escrever isto.
Aviso: Altamente influenciado por Viver todos os Dias Cansa.
Senhor Luis Piteira, é a sua vez.

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